domingo, 8 de novembro de 2015

Trecho de FH sobre o afrodescendente

Nas favelas pelas quais andei, as famílias negras viviam sempre nas áreas mais pobres. O setor mais miserável da favela era onde estavam as famílias negras. Portanto, dizer que é só uma questão de classe não é certo. Parece-nos que o ritmo de mudança da sociedade global em Florianópolis (Cor e mobilidade social em Florianópolis) não ofereceu muitas oportunidades de ascensão social aos elementos egressos da escravidão ou das camadas sociais dependentes. As mudanças recentes apenas afetaram as condições nas quais eles prestam, regulamente, o seus serviços. Tornando se trabalhadores livres e assalariados, nem por isso conseguiram até recentemente, em escala apreciável, novas oportunidades de classificação social.
Numa comunidade do tipo desterro, a discriminação que se exercia primeira e naturalmente quanto ao escravo transferia-se para os negros em geral seus descendentes mestiços. Este processo, que existiu em todo o Brasil, era possível por causa da seleção de caracteres físicos como elementos para explicar a desigualdade social, em termos da existencia da degualdade natural. Mas em Desterro, por causa da coexistência do trabalho livre com o trabalho escravo e da inexistência de condições de materias que possibilitassem a emergência de um estilo de vida senhorial, a desigualdade natural entre negros e brancos sempre foi enfatizada vigorosomente, como compensatório ambom produziam mesmos meis necessários de sobrevivência. Dessa forma a discriminação que o senhor exercia sobre o escravo pôde transformar-se na discriminação dos brancos, ainda que pobres. E a discriminação pode perseverar depois da abolição, porque esta não extinguiria obviamente nenhuma desigualdade natural.
Com a desagregação da ordem servil, que naturalmente antecede, como processo, a Abolição, foi se constituindo, pouco a pouco, o problema negro e, com ele, intensificando-se o preconceito com novo conteúdo. Nesse processo o preconceito de cor ou raça transparece nitidamente na qualidade de representante social que toma arbitrariamente a cor ou outros atributos raciais distinguíveis, reais ou imaginarios,  como fonte de estereótipos, de um momento para outro, o negro que fora sustentáculo exclusivo do trabalho na escravidão passa a ser representado como ocioso, por ser negro, e assim por diante.
Cabe, entretanto, ponderar que as reapresentações faziam bases de realidade. Seria falso supor que os brancos imputassem todos os atributos negativos aos negros como uma simples projeção ou como simples autodefesa imaginário. Não pode se dizer que o negrodesordeiro, ocioso, era criada pelo branco não criou apenas essa representação do negro: fê-lo, de fato agir dessa forma. E o fez tanto porque criou as condições de vida e de opção para os negros indicadas acima, quanto porque passou, ao mesmo tempo, a representá-los com essa imagem.
Em nosso primeiro artigo nos comprometemos a provar o contrário do que estabelece ou se tem estabelecido com relação ao que se chama preconceito de raça; preconceito este que muitos dos nossos julgam alusivos aos homens de cor em geral. Mas isso tanto assim não é o que muitos de nossos irmaos chamados a ocupar cargos públicos; e alguns debaixo de alta responsabilidade. Julgo assim provado que a instrução é o único motivo pelo qual eles têm o mérito que lhes é dispensado e de que se torna merecedor todo homem que se impoe a consideração pública, pelos seus atos, ilustração e isenção de caráter.
Quando em primeiro artigo pedimos nossos irmãos de raça para educar seus filhos, porque razão assim proceder, certos que compraríamos um dever de lealdade pois somos iguais. Temos razão para assim proceder, porque muitos pais e mães esquecem o dever de educar os filhos, sem pensar que concorrem para que a ignorância seja mantida além da expectativa.
A ilusão fundamental, nesse caso, não estava na negação da existência de barreiras e preconceitos que condicionavam a integração do negro à classes, mas na compreensão erronea das barreiras: o branco repuduaria enquato homem ignorante não enquanto negro.
Quanto a um ou outro elemento de cor preta ou parda ocupar posição oficial de origem política, é porque existem muitos a que os bafejos de êfemeras regalias obcecam-lhes de tal maneira os sentimentos nobres, que não sentem ecoar em sua alma os estalidos das palmatoadas dadas entre muros da cadeia, em homens justamente conceituados.
O Conselho Nacional de Combate a discriminação deverá estudar adoção de políticas afirmativas em favor dos agro-descendentes. Essas políticas afirmativas em favor dos afto-descendentes. Essas políticas referem a temas concretos: investimentos preferenciais na área da educação, saúde, habitação, saneamento, agua potável, controle ambiental nas áreas habitadas por afro-descendentes, quer dizer as mais pobres do país, em geral: destinação de recursos públicos, inclusive com participação da iniciativa privada nas bolsas para estudantes negros, projetos de desenvolvimentos sustentavel quilombolas, projeto de desenvolvimento nas comunidades quilombolas, formação de lideranças negras, projeto de apoio a empreendedores negros, projeto de intercâmbio com países africanos e troca de experiência.
Concluo que tão importante para medidas têm sido adotadas pelo governo federal, bem como estados e municípios no plano das mentalidades. Alteram padrões de legitimidade. Práticas que eram toleradas, há alguns anos, não são mais seja tocante na comunidade negram, seja no gênero, ou ainda, de grupos em minorias.
(Kamel, Ali, Não somos Racistas, RJ: Noca Fronteira, 2006)

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